Escrito no fim da década de 40, ainda sob a influência dos horrores dos crimes nazistas e mesmo do stalinismo, engendrou George Orwell um mundo no qual o ser humano estaria controlado, manipulado e submisso aos desígnios do "Grande Irmão".
Ele nos leva a mentalizar, a cada página, o cinza chumbo, pesado,
opaco e amargo da vida.
Uma "vida" sem perspectiva, sem aquela ambição pessoal que leva ao progresso e à aptidão da mente e da própria existência.
O que seria a "teletela", um aparelho que controlava até
os pensamentos das pessoas, senão uma sofisticação da Gestapo e de outras
polícias especiais dos regimes totalitários? O que seria o absurdo controle da
opinião, em que a própria "história" era modificada segundo os
desígnios do Poder — o "Times" era reescrito tantas vezes fosse necessário
para registrar os interesses renovados do Partido —, uma versão da
imprensa unilateral a serviço do totalitarismo?
E quais as consequências? O sistema de "tratamento
psiquiátrico" aos que se rebelavam e aos que caem "em desgraça"; a
autocensura, uma voz insuportável que reprime a manifestação, já que são
nebulosos os limites permissíveis da expressão do pensamento.
O herói de
"1984" não tremeu diante de um simples volume de folhas em branco e,
em pânico, começou a escrever? Lá fora, enquanto isso, desincentivava-se o amor
(em todas as suas nuanças) em meio a uma propaganda política permanente e
maciça onde eram ressaltados os "grandes feitos" bélicos do Poder (a "Teletela"
nunca era desligada).
As comunicações se davam em "novilíngua", uma linguagem
imposta pelo Poder, de limitado vocabulário com tendência a ser cada vez mais
restrito.
Apagara-se para sempre sua interioridade que, alimentada, alerta
para uma existência transcendente. Esse espaço fora preenchido pela
máxima presente sempre: "O Grande Irmão zela por ti".
A proliferação de seitas religiosas ditas comerciais também não contribui para esse aprisionamento mental de seus adeptos?
Orwell não dá esperanças: Winston, o herói "dissidente",
como desejado, submetido a todas as torturas e sofrimentos,
"espontaneamente", com convicção, se convence que "dois e dois são
cinco". O seu axioma antes fora: "A liberdade é a liberdade de dizer
que dois e dois são quatro; admitindo-se isto, tudo o mais decorre".
No
auge de sua "recuperação" passa a amar o "Grande Irmão".
Uma ténue esperança alimentada por Winston até ser recuperado" era a eventual revolta dos "proles", uma sociedade à margem do
poder, desorganizada, mas também controlada por intensa espionagem e, quanto
aos "divertimentos", um dos mais comuns era a proliferação de filmes
pornográficos.
Os "proles", todavia, no percurso todo do livro,
permaneceram alienados e impotentes.
Os abusos dos grandes irmãos atuais que fazem da política o
meio da ambição e do acúmulo de riquezas pela corrupção sem a preocupação em
melhorar a vida dos..."proles".
Embora o mundo não tenha mudado muito desde quando o livro foi
escrito, é de se reconhecer a tendência à centralização do poder e o
aperfeiçoamento inconteste dos recursos "formadores" da opinião, em
especial a televisão.
É inequívoco que o quadro pintado por Orwell se assentara numa
paisagem contemporânea que o inspiraria amargamente.
"1984" contém, então, uma advertência notória: a
necessidade de estarmos atentos a qualquer forma de dominação, em qualquer
nível que se manifeste, denunciando-a vigorosamente, até porque há, no planeta
povos totalmente dominados pela vontade de um ditador e seus asseclas.
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